Para 57% dos nordestinos, efeitos do clima foram mais severos em 2024

De cada dez nordestinos, seis acreditam que os eventos climáticos severos que afetaram a Região Nordeste em 2024, bem como suas consequências, foram comparativamente piores que o habitual. A constatação é da pesquisa A Visão do Nordeste Sobre Mudanças Climáticas, do instituto Nexus de Pesquisa e Inteligência, divulgada nesta terça-feira (15).
Para 57% dos entrevistados, os eventos climáticos registrados ao longo do ano passado foram “piores que o normal”, sendo que 11% classificaram como “muito piores que o normal”. Outros 25% consideraram os eventos climáticos idênticos aos de anos anteriores; 12% disseram ter sentido uma melhora e 3%, que a situação foi muito melhor. Cerca de 3% dos entrevistados não souberam ou não responderam às perguntas.
Percepções de mudanças climáticas
Entre as mudanças percebidas, 96% dos entrevistados citaram aumento de temperatura; 90%, a ocorrência de menos chuva; e 83%, secas mais graves. Entre os habitantes de cidades do interior com renda familiar de até um salário mínimo, essa percepção sobe para 86%.
Quase metade (49%) dos entrevistados não considera que a deterioração das condições climáticas seja uma crise, embora admitam se tratar de um “grave problema”. Outros 27% veem a questão como uma crise. Para 10%, é um “problema menor”, enquanto 9% não veem nenhum problema e 5% não souberam ou não responderam.
Entre os moradores dos nove estados do Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe), a avaliação de que o mundo vivencia uma crise climática é mais recorrente entre mulheres (31%), jovens de 16 a 24 anos (35%), pessoas com ensino superior (39%) e quem tem renda superior a cinco salários mínimos (38%).
Expectativas para o futuro
Para 45% dos entrevistados, a intensidade dos eventos climáticos extremos como secas, inundações, tempestades e calor ou frio intensos será muito mais forte nos próximos cinco anos. Outros 8% acreditam que será “extremamente mais forte”, totalizando 53% que esperam um agravamento da situação. Esse grupo é composto, principalmente, por pessoas com ensino superior (16%) e renda familiar acima de cinco salários mínimos (22%).
Na contramão, 20% acreditam que, até 2030, os eventos climáticos extremos serão moderados; 10%, que serão menos fortes; e 4%, muito menos fortes. Já 12% não souberam ou não responderam.
Análise de especialistas
Marcelo Tokarski, executivo-chefe do Nexus, destaca: “A pesquisa mostra que os nordestinos estão preocupados com as mudanças climáticas e têm sentido os eventos extremos, como as altas temperaturas e as secas, com destaque para a população mais pobre e do interior. Os dados também revelam uma percepção mais crítica entre os brasileiros com maior escolaridade”.
A meteorologista Morgana Almeida, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), avaliou que os resultados da pesquisa indicam maior conscientização da população sobre as mudanças climáticas. “A pesquisa retrata que a população está mais atenta às questões do clima. E isso é muito importante, pois a condição de clima e tempo é fundamental para a vida de todos”, disse.
Morgana, que vive no Recife, lembrou que o Nordeste é muito diverso e que, embora 2024 não tenha sido o pior ano em termos de chuvas, foi um dos mais quentes já registrados. Em 2024, a média brasileira de temperatura foi de 25,02ºC — 0,79ºC acima da média histórica de 24,23ºC —, tornando-o o ano mais quente registrado no país desde 1961.
“As mudanças climáticas têm se evidenciado em todas as partes do globo e, a cada ano que passa, as temperaturas estão mais altas. Consequentemente, os eventos extremos, seja de mais chuvas ou de estiagem, têm se tornado mais frequentes, conforme os especialistas há mais de dez anos previram que aconteceria”, destacou Morgana.
Comparativo com a Região Norte
Para a pesquisa, o instituto Nexus entrevistou 1.216 pessoas entre 12 e 17 de dezembro de 2024, com margem de erro de 3,5 pontos percentuais e intervalo de confiança de 95%.
Em março, foram divulgados os resultados da mesma pesquisa aplicada a 1.195 moradores da Região Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins). Entre os nortistas, 72% consideram que os eventos climáticos extremos de 2024 foram piores que em anos anteriores. Para 91%, o ano foi mais quente; 76% disseram que choveu menos; 78% notaram secas mais graves; e 65% acreditam que os eventos extremos se intensificarão nos próximos cinco anos.
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Fonte: Agência Brasil – Matéria original